OS INCONVENIENTES DE SER RIO Dirceu Rabelo
Nem cismavam as gretas de pedras Das serras de Diamantina Quando começaram a parir As águas do Rio do Peixe Que as dores do parto Não terminariam ali Segue seu filho bastardo Lambendo o lodo das pedras Engrossando seu leito preguiçoso Serpenteando feito gari Lavando areia aqui e ali Levando com os sedimentos Os preciosos frutos da ganância Purificando a alma do Serro Ressurgindo em Alvorada Ali sendo estuprado pelo garimpo Que ralam seus barrancos sem dó Irrompendo em Dom Joaquim Onde para incrédulo! Aqui, um grande minerossauro Fuça suas margens Bem onde ele é deflorado Pelo desalmado e fedido Rio Folheta Fecharam questão! Vão levar suas águas para o mar Com canudões, em sucção Por outros caminhos Que não os normais Quanta maldição! Mas, suas águas não vieram do mar? E para lá não estão indo... Naturalmente? Por que não deixam? Fecharam questão (já não foi dito?) Mas, o que restar do rio (se restar) Continuará agora Cambaleante como um bêbado Mais magro, mirrado Coitado, malgrado progresso Desaguando quase seco No Rio Santo Antônio Triste sina ser rio Onde riem de seu Líquido estado de ser.
|
Poeta
|