Crónicas :  Palavras
Tem palavras que ficam presas no vocabulário do nosso subconsciente. Quando “inventamos” de escrever, começamos a chacoalhar a mente. Então elas se desprendem, e querem ser usadas. É aqui que começa a história: quando digito a palavra, e o dicionário do computador passa o “traço” vermelho. E agora, o que fazer? Tira letra, põe letra, tira acento, põe acento... E nada do traço apagar. Quem tem o luxo de ter um “Aurélio” em casa, se safa numa boa. Mas o meu “socorro” coitado, nessas horas pede perdão. O pior de tudo é que nessas paradinhas, um monte de inspirações invadem (e evadem também). E quando volto a caminhar, já não sigo pelo mesmo caminho. Nessas horas já estou cortando caminho, pegando atalho etc. Tudo para ver se encontro o fio da meada. Mas a questão aqui é a palavra. Tem aquela coisa do regionalismo, do bairrismo... e qualquer “ismo” que vá diminuindo o raio de ação da palavra. Eu mesmo sou “retado” (olhe aí, consulte o Nivaldo Lariú) para usar palavras da minha infância, que só entende quem foi menino (e do mesmo bairro) naquela época. Por exemplo: num poema, eu usei a expressão: “pidir pinico” (é assim mesmo). Quando meu compadre (o poeta Luiz Nazcimentto) leu, ele achou engraçado por eu ter me lembrado daquela expressão. Outra pessoa logo diria: aqui está errado!. O certo é pedir, e não “pidir” e o nome é penico, não pinico. Também esta pessoa não saberia o significado. O pior é que isso não está em nenhum dicionário, nem no de Nivaldo Lariú.

Se eu tivesse terminado o curso de Letras, teria optado pela Linguística. Eu gosto de como se fala, e não como se escreve.
Eu canto minha aldeia, tentando tornar-me universal. Que não entendam a letra, mas espero que gostem da música.

Vocabulário:
Pidir pinico - Dar-se por vencido, jogar a toalha, entregar os pontos, perder a luta.
Nivaldo Lariú – Autor do livro: “Dicionário de Baianês”
Aurélio - Aurélio Buarque de Holanda – Autor de Dicionários de Língua Portuguesa

A.J. Cardiais
16.07.2011
Poeta

Poemas :  A mutação das palavras
A palavra quando sai de circulação,
fica existindo só no dicionário.
Quando o poeta operário,
coloca a palavra em sua construção,
ela vai de mão em mão...

Sofrendo desgastes,
sofrendo manipulações
através dos tempos
e das declamações.

A.J. Cardiais
04.08.2011
Poeta

Poemas :  Linguagem poética
Linguagem poética
Estou aqui de soslaio...
Quer saber?
Procure um dicionário
e se embriague
e se deleite
com o enfeite
de alguns esnobes
que usam caras,
bocas e vozes
para se exprimirem...

Mas eu estava aqui,
só de soslaio,
quando pensei:
estou esnobando?
Não sei... Não sei...

Dizem que na poesia
tem que "conter tanta coisa"...
Mas eu não sei nada
desse "conteúdo".
Porém não me contenho
e não me abstenho:
escrevo do jeito que sei.
Pô!

A.J. Cardiais
19.01.2009
Poeta

Poemas :  Sem inspiração
Sem inspiração
Falar da epiderme das raças
da violência nas estradas
dos que dão contra-mão...

Falar da fome, da falta de pão,
do sentido obrigatório da vida
da alma perdida
do sem teto, do sem chão...

Falar do meu itinerário
do meu dicionário
sem direção...

Falar do quê?
Fala nada não...
Você não vê?
Estou sem inspiração.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta