Poemas :  Incomodando Deus
Todos os dias ao acordar,
eu não tenho nada
o que comemorar...

Eu não agradeço a Deus
por ainda estar vivo...
Não tenho motivo.

Eu não queria estar aqui.
Se foi eu quem pedi,
eu já me arrependi...

Todo dia eu tenho que disfarçar
e acreditar
que está tudo bem...

Tenho que comparar
o sofrimento de alguém
com o meu, para melhorar...

Todos os dias
eu incomodo Deus,
pedindo para Ele me ajudar...

Você pode não acreditar,
mas eu já estou com vergonha
de tanto incomodar...

Eu espero o dia
de não pedir mais,
só agradecer.

A.J. Cardiais
18.01.2011
Poeta

Poemas sociales :  Sociedade desalmada
Sociedade desalmada
Sou um ser muito sensível...
E ser sensível é horrível,
no meio desta Sociedade desalmada.

Viver tornou-se uma ferocidade:
tem gente matando a troco de nada.
Tem gente prejudicando o próximo,
simplesmente pelo prazer de ver
a vida do próximo desandar.

Poucos procuram ajudar.
A maioria só quer se “dar bem”.
Sendo assim, ai de quem
se puser em seu caminho,
rumo ao “sucesso”.

Fama, dinheiro e poder,
virou símbolo de “felicidade”.
Se fosse assim, na verdade,
famosos e endinheirados
não se drogariam,
nem se matariam.

São todos uns “pobres coitados”,
que não sabem de nada.
A verdadeira felicidade
vem da Alma,
e não da fama ou da riqueza.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas de reflexíon :  Pequeno caso para meditar
Pequeno caso para meditar
Não devemos odiar
nem desfazer de ninguém,
pois nunca sabemos de quem
nós vamos precisar...

De repente, quando necessitarmos,
pode ser que alguém que odiamos,
é que venha nos ajudar.

A.J. Cardiais
24.08.2014
imagem: google
Poeta

Cuentos :  Doação dos olhos
Resolvi! Vou doar meus olhos. Afinal, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que seria o melhor para eles.
O que eles vão fazer quando eu morrer? Se eu não os doar, eles irão comigo e apodrecerão também, não é mesmo? Não, não quero este triste fim para os órgãos que me fizeram ver maravilhas. Ainda mais os meus... Não estou querendo "puxar o saco", mas eles são ótimos. Enxergam bem à qualquer distância. Também pudera, eu os exercito bastante! Estão sempre em forma, apesar das pancadas e dos ciscos que os visitam de vez em quando.

É, vou doar os meus olhos... Será o melhor para eles. Não quero, quando morrer, que lá em cima (ou lá embaixo?), ao encontrar-me com alguém que foi cego, ficar arrependido quando ele começar a se queixar de que, por falta de humanidade, nunca conseguiu ver a terra, o mar, as plantas, as pessoas, os animais... Não sabe como é o azul do céu e do mar, que tanto ouviu falar; Não sabe como é a beleza das flores, das mulheres, das crianças... Que por falta de visão passou por esta vida, sentiu tudo, mas não viu nada; Não pode amar uma mulher (no caso, se eu estiver conversando com algum homem) pela atração física e sim por outros porquês que a falta de visão procura "compensar"... Mas, nunca é a mesma coisa.

Enfim, não quero ouvir o "lenga-lenga” de nenhum cego, e ficar com remorsos. Porque, se algum deles vier falar comigo, eu direi: Meu amigo, eu doei os meus olhos... Agora, não tenho culpa se eles não os deram a você, certo?

E também posso receber algum agradecimento de alguém que foi beneficiado com os meus olhos. E daí passaremos a conversar sobre o assunto:
-- Como é, você gostou dos meus olhos?
-- Gostei sim, rapaz. Eles eram ótimos! E olhe que eu fiquei dez anos com eles, e nunca precisei ir ao oftalmologista... E você, foi alguma vez?
-- Eu fui uma vez só. É que eles estavam "minando", sabe como é, né?
-- Eu sei... Eles ainda estavam com esse problema. Mas isto não era nada. Foi por você força-los muito...
-- Ora, mas afinal, eu tinha que testa-los, não tinha?
-- Tinha, mas foi demais.
-- É, eu devo ter exagerado mesmo... Sim, e como foi você, o que fez com eles?
-- Fiz a mesma coisa que você: Doei-os novamente. Não queria vê-los estragando debaixo da terra...

A.J. Cardiais
1981
Poeta

Poemas surrealistas :  PUNHO SELVAGEM
Gosto de mastigar os prédios em noite clara
só é vermelho o grito que dá nome à esquina
quando é balada a metralha

Pássaro da noite só pia quanto aponta
o número no cemitério
a última canção de amor é no bordel
porque todo o resto despareceu

Quanto mais mordaz a ironia
mais aguda é a tristeza
quanto mais intensa a fome
maior o sentido da beleza

Pois se o coração é inútil sem amor declarado
a loucura é admirada morto o artista finda rebelião
quaternária palma bruscamante de armas
no punho selvagem a verdade pouco importa
se a razão urubuza vaidade
café na xícara - o que é o desdém sem piedade?
Poeta