Fúnebres pesares, açoita-me a alma E eu, à janela, nada além permeio Do quê uma tempestade que aos poucos se acalma Dado o timbre dum lúgubre regorjeio. Fúnebres pesares, infindas condolências Aos beijos que se foram e jamais voltarão; O quê me queda senão a reminiscência De anos que somente passarão?
Pobres infelizes encantados por um amor tardio E eu, à janela, nada além permeio Do quê os invernos que já não trazem frio Se não uma primavera que tampouco eu semeio. Pobres poetas desfigurados pelo romantismo E homens destituídos por palavras sem nexo. De quê vale tão boçal ilusionismo Quando, no fim, é sempre tudo sexo?
Mas confesso-vos que também cedo eu ao pecado E é por isso tamanho alarde: Como posso condenar um ser amado Quando hoje já é tarde? Eu apenas resguardo uns poucos beijos pelas nuances E umas poucas carícias em lugares indevidos; Sofismo-me à janela para que me amanse A ternura destes momentos perdidos...
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Poeta
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