Quando nasci, já era um sem abrigo. Apareci cá fora todo nu, todo sujo, Sem dentes nem cabelo, um velho. Todo enrugado, não via, e chorava. Pois que alguém de maus instintos, Deu-me duas palmadas no rabo. Chorava da minha pouca sorte Aparecer no mundo para meter o bodelho. Alguém teve pena de mim E com carinho me levou para o banho. Outra pessoa bondosa, me trouxe roupa. Mas cabelos e dentes... nada! Nada havia à minha medida. Outra veio depois para me dar a comer, A beber... a beber leite nada de sólido, Devido à minha fraqueza, era perigoso. Deram-me guarida e lá fui vivendo E mudei muito, podem crer! Engordei, era mais pesado, e maior, É giro, não é? Como podemos mudar Se nos tratam bem e é importante, Se nos respeitam como somos, Sentimo-nos alguém. Comecei a ver e tudo era lindo. As pessoas que me rodeavam As pessoas que me acarinhavam As cores variadas das flores, O perfume que elas exalavam. Diziam-me que eu era bonito, Que era parecido com o meu pai. Ah... não! Ele parece-se com a mãe! Eu ouvia tudo isto e era feliz. Com o tempo vi que fui enganado Nada era lindo, As flores murcharam O perfume, ai o perfume... desapareceu. Não havia sinceridade, mas hipocrisia. Que não havia paz mas sim guerras. Que muitos tinham voltado Para a mesma maneira de viver Como eu vivi, eram sem abrigo, Sem higiene, sem nada para comer, Sem casa para viver, sem felicidade. Não, não quero viver num mundo assim Deixei-me voltar para donde eu vim, Lá, eu era feliz!
A. da fonseca
SPA autor 16430
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Poeta
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