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Porquê, mas porquê eu me sinto incomodado Pela miséria, fome, sede, sem abrigo, sem Sol Que possa aquecer tanta criança fria no gelado Dos corações que os vêm passar sem terem farol.
Porquê tudo isto me enerva quando o Mundo é rico E eu? que faço eu ? Escrevo, barafusto revoltado Por não ter meios de ajudar mas certo, não abdico De gritar bem alto, olhem, escutem o desamparado.
Mas tenho a impressão que o egoísmo é mais forte Só vêm o que querem vão assobiando para o lado Como se não fossem do mesmo mundo, é a morte Dos sentimentos que faz que o mundo ande atrasado.
Olhem, lá ao largo aquele cruzeiro de luxo navegando. Vejam o parque dos Casinos, não há lugar para o carro. Vejam a roleta, o bacará, e o dinheiro vai esbanjando. Reparem naquele garoto que pede esmola, como é bizarro!
A. da fonseca
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Poeta
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Que a festa comece e a miséria se divirta. Uma mesa feita de pano estendido chão, Quase cheia de nada mas nela há a vida Daquilo que não temos mas há o coração.
Que sejam pretos Árabes ou Europeus O barco é o mesmo sem porto de abrigo, Sem bússola nem remos, a vida é um ilhéu Deserto de felicidade, parece ser castigo.
À volta desse pano branco, pobre mesa, Os pais e os filhos pouco têm para comer; Chega o fim do ano só tendo a certeza Que outro vai chegar e nada lhes vai trazer.
Procurando um osso o amigo sempre fiel, Um cão que os ama os protege, não diz nada. Magro como os donos, com o destino cruel Diria que dormiu em cima de chapa ondulada.
Chegou a meia noite e as doze badaladas. Ouviram-se os foguetes e o fogo de artificio. Nesses pobres chegaram lágrimas cruzadas De desespero e de uma vida de sacrifício
Imploram aos Deuses que a vida lhes dê prazer, Justiça divina que não sabem se podem acreditar. Novo Ano vai começar na incerteza do viver, Nada pedem, mas têm direito de ver o Sol brilhar
A. DA FONSECA
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Poeta
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Andei perdido Em vielas sem saída, Andei esquecido do que era a vida. Sem Norte sem Sul Sem Estrela Polar Eu andei perdido Sem saber por onde andar. Percorri os bares E tabernas imundas Tive mulheres aos pares E a moral nada profunda. Mas que querem que fosse Sem um cêntimo na algibeira Sem ter onde dormir uma noite inteira? Chamam-me sem abrigo Com toda a razão Mas meus amigos, graças ao meu patrão. Trabalhei tantos anos E pergunto hoje para quê Estou velho, sou lixo que ninguém vê. Pontapé para aqui, são só desenganos. Desde a minha juventude Que o meu corpo dei ao manifesto Mas hoje já nem sequer presto Para as ruas varrer. Desprezo! Os meus banhos, são quando chove E ninguém se comove De me ver indefeso. Eu já nem posso votar, Se pudesse eu o faria de bom coração Exigiria a todos os políticos Para que eu pudesse sorrir A economizar dinheiro E de coração inteiro, Construam pontes para podermos dormir!
A. da fonseca A. da fonseca
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Poeta
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Não importa onde nascem Não importa a sua cor. O importante é que passem Na vida com muito amor.
Alguns são passarinhos Que dormem à luz da Lua. Depenados de carinhos, Não são que putos da rua.
È triste ver esses putos Que não têm eira nem beira. A vida só lhe dá chutos Têm o Sol como braseira.
Crianças de vida triste Merecem ser mais amadas. Mas para eles não existe Que as pedras da calçada.
Putos sem ontem nem hoje E de um amanhã incerto, È a sorte que deles foge E os lobos ficam mais perto.
Pássaros que vão crescendo Sempre com as asas quebradas, Num mundo sem dividendo Com a miséria de mãos dadas.
Velho Mundo, Voltas-te à Idade-Média. E esta sociedade sem rédeas Deixou de ser a grande dama. Velho mundo, A tua mocidade anda perdida A sua estrada na vida È toda feita de lama!
A. da fonseca
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Poeta
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Em Oceano furioso nosso Mundo navega Lutando contra as vagas que se erguem Mas a esperança, quase morre nessa refrega Numa luta desigual e a morte todos temem.
Os Almirantes não conseguem uma decisão Para evitar a catástrofe que está bem patente Os capitães lutam para acalmar a apreensão Que reina entre os marinheiros já descrentes.
Nos beliches no convés da proa até à popa Os passageiros dessa Nau em puro naufrágio O medo, a incerteza se apoderou, nada poupa Alimentando a miséria que é mau presságio.
A revolta começa a se sentir e a populaça Tenta tomar o comando da Nau à deriva Mas logo os comandantes nessa desgraça Matam a liberdade que é a nossa locomotiva.
A. da fonseca
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Poeta
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Virou pesadelo, Por culpa de quem? Por culpa da esquerda Que governou à direita Enquanto o povo espreita Numa janela quase fechada Uma vida que não nos deu nada. Mas viva a democracia Com um elefante poderoso Que representa a força do povo Não à direita, com Coelhos Mas uma esquerda com pentelhos Bem eriçados Que digam merda ao capitalismo, Exploradores do homem Que trabalha dia a dia E que não nos dêem conselhos Porque são falsos São cheios de hipocrisia Venha a nós o vosso esforço Para bem encher os nossos cofres E vós, pobres escravos Convençam-se que é assim Trabalhem mais para ganhar mais É a doutrina de Nicolas Sarkozy Pauvre con!
Viva a liberdade Viva a democracia Viva o povo que é a seiva de um estado
Abraço a todos os homens e mulheres QUE SOFREM
A. da fonseca
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Poeta
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Puta de vida, puta de sociedade Não é só a puta que é fodida Mas também a nossa dignidade. Mesmo a dignidade da puta Nem ela mesmo é respeitada Ninguém é ninguém, não somos nada. Tenho vontade de ser kamikas Fazer explodir tudo em palavras Das mais rudes às mais malcriadas Pois que há gente sem sentimentos E nada servem os lamentos Daqueles que são feridos de morte Que andam no Mundo sem Norte Que tudo fazem para o merecer Mas esse Norte nem sequer dá para ver. Um véu negro se levanta Se reagem logo alguém se espanta E dizem-lhes, vão-se foder. Se estou revoltado? Ah pois estou Gostava de viver num mundo sem hipocrisia Sem o cinismo das guerras Mesmo que sejam só de palavras E essas fazem na verdade doer. Porquê, porque quero a paz E contrariado não posso responder
A. da fonseca
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Poeta
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Estou pronto para morrer Como e quando, não sei, É o que vos digo, podem crer, Estou farto da vida também.
Farto desta podre sociedade De ego sempre bem inchado. Não existe a solidariedade, O Mundo já está quadrado.
A cada ângulo um hipócrita, No centro um mau palhaço Que não passa de um parasita.
Que nos dá muita urticária E no coração fica o traço De felicidade imaginária.
A. da fonseca
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Poeta
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Sempre fui um democrata Sempre me bati pela Liberdade, Viver sobre a lei da chibata É viver no medo, na ansiedade
Como democrata que sou Respeito todas as ideias Mas estar de acordo,não estou Com o cântico dessas sereias.
Sereia que engana o povo Com o seu cínico cantar, Não trazem nada de novo, Só prisões para aprisionar.
Não suporto as ditaduras Sejam de direita ou de esquerda, Os povos vivem às escuras Cercados por labaredas.
Prefiro uma democracia imperfeita Pois que nela vivo em Liberdade, A uma ditadura muito perfeita Que nos priva da verdade.
Quem hoje defende Salazar É porque bem na vida estava Vivendo sem se importar Da dignidade enclaustrada.
A. da fonseca
SPA Autor nº 16430
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Poeta
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É preciso mudar o conceito de “sucesso”... É preciso mudar o conceito de “empreendimento”. Alguém pode investir numa ideia que não vai dar nenhum “rendimento”, mas pode dar satisfação.
Se este alguém conseguiu o intento, teve sucesso, e com isso o prazer. O prazer de viver não deve estar só em comer, beber, transar, ganhar dinheiro e gastar...
O prazer pode estar em apreciar tudo isto que nós não construímos, e procurar entender seu significado. Pode ser que eu esteja errado... Só procuro alertar para o que eu vejo.
Nem precisa de comentários. Reparem nos noticiários: artistas famosos viciados em drogas... Por que uma “droga” dessa, se para eles o que mais interessa é ser famoso e ter dinheiro?
Os “empreendedores”, com suas ambições, estão crescendo, construindo, evoluindo, poluindo e destruindo o mundo e as boas intenções. Viraram máquinas de sucesso e dinheiro. Não têm mais coração.
A.J. Cardiais 06.05.2011
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Poeta
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