O tempo apanhou o vírus, Está sonolento, sem força para se sacudir e dar o cheiro a verão. Eu cá em baixo sonho com fins de tarde e noites cálidas, esplanadas abertas, tomar um café depois do jantar, ouvir o canto dos grilos, ver céu estrelado o murmúrio das ondas, sentir que ainda o mundo e o mesmo. Só espero que algum pedaço de sucata que o homem manda lá para cima não me caia na cabeça. Por aqui, só as beatas dos fumadores incomoda. E estive a pensar, se a sucata se desintegra a entrar na atmosfera, podiam mandar lá para cima a de cá de baixo e resolvia-se a poluição terráqueos. É melhor brincar e esquecer tanta coisa que me preocupa. Mau caminho seguimos, estragamos o mundo e estamos a estragar o nosso firmamento. Nem vale a pena pensar se vai haver reformas, estamos a caminhar para sermos digitais.
Não sei onde deixei passar o tempo. No pensamento tudo guardado, desde a ama até à minha cama de grades, aos minúsculos vestidos com favos de mel, à vacina, que deitada na cadeira de couro levei na nádega, para não ficar com a marca no braço. Como um sonho, vejo-me ao colo, de pé na cama segurando o lateral e ouvir o Dr. Feio, o nosso médico a falar no hall da entrada, a subir as escadas, das moedas grandes prateadas que me davam por não chorar ao cair e magoar-me. Sou a criança, a adolescente, a mulher, mãe, avó. Mas sou tudo no que se gastou, como manta roçada do uso. Deus fez-me num momento em que estava distraído e saí diferente. Nunca me trocaria por ninguém. Quantas vezes fico calada, para não pensarem que sou doida. AH! Se soubessem os meus pensamentos! Desbotada, sem cores definidas, por dentro é novo. Nem as lágrimas ficaram. Num momento irei, para onde não sei, pois o que sou só Deus o sabe. Ficarão as milhares de palavras que durante a vida toda plasmei num papel qualquer. Alguém o lerá. E neses momentos eu ainda estou cá. Na doença, na alegria, na dor de tantos momentos que queimaram a minha alma, por gestos ou palavras, sinto que desde que Deus me criou nunca saiu da minha vida. E sinto que assim será eternamente. Amo viver, amo o ser que sou, os braços que me abraçam, o sentir que mesmo sendo tela desbotada, sou desejada e sem vaidade, sinto-me renascer todos os dias. Sem saber o que sou, para onde vou, o que desejo é ir ficando por aqui dentro das lembranças vivas, desde que existo. Porto,1 de Junho de 2021 Carminha Nieves (secreet50)
A inspiração fantástica. O velho senhor com muita inspiração. Maturidade. Concentração no que se faz. Concentração que leva a inspiração. A atitude de um sábio. Escrevendo devagar e de forma que as palavras fluam melhor. A escrita fantástica. A escrita de um velho profissional. A escola realista. A escola dos grandes mestres.
A união do divino e do humano. A unidão do demoníaco e do humano. A sensualidade de uma deusa ou demônio. A sensualidade antiga ainda é visível. A forma alva e clara é de uma beleza incrível. O olhar sensual. A união física entre demônios e seres humanos. O antigo culto pagão sumeriano. A união proibida.
Quando olhares a tua Mãe, não tenhas pena das rugas. Pensa que era como tu. E se viveres tanto como Ela serás igual. Se está um pouco curvada, ou menos ágil, não comentes. Pelo contrário dá-lhe alento e com carinho diz-lhe que está luminosa e bonita. Faz de conta que é igual como era quando te colhia nos braços e te beijava com a pele macia e com agilidade. Nunca demonstres pena, nem tristeza. A beleza de Mãe é eterna e tu assim deves sentir. Nunca digas que não deve vestir ou arranjar-se, porque “já não tem idade.” Ampara-a como sempre te amparou. Sê filha fiel e digna de teres a sorte de ainda poderes contar com Ela. Nesta vida, tudo vai. Mas o tempo de volta traz o que já outros tiveram. Um abraço com amizade a todas as Mães do mundo e que em silêncio sofreram pelos filhos, que hoje ou amanhã serão Pais.
A infância maravilhosa. A juventude musical. O começo brilhante. A maravilhosa composição inicial de um gênio. A maravilhosa forma artística de um gênio. Contemplando a beleza de uma arte erudita. Contemplando a bela forma de composição de uma criança.
A sensualidade maravilhosa. O nu totalmente artístico. A mulher "cheinha" como a forma de beleza universal. O corpo sensual da mulher. O corpo maravilhoso de uma mulher nua. A beleza de um retrato sensual. A beleza do retrato renascentista. A beleza fugaz e passageira. A beleza terrena.
Queria chorar. Queria esquecer. Queria ser o que já fui. Renascer deste cinzento e voltar a ser dourada. Acordar noutra época já longínqua Ser e não ser, sem questão. Mas aceitar o que sou. Não saber que a vida é assim passageira e fugaz. Que não se pode esticar o tempo. Está marcado. Com afinco ter coragem e feliz viver o tempo meu. Passou tudo tão rápido! Ainda estou na minha cama de grades beije e com um boneco pintado na cabeceira, a olhar a parede onde via figuras feitas pelo meuPai. Ainda estou na praia na Foz, pequenina e rechonchuda com o fato de banho preto, vigiada pela ama a molhar os pés. Ainda em Verin, a subir as escadas ao colo do meu primo, com um lampião de querosene a iluminar as escadas depois da guerra civil. Sou ainda a pequenina que nem ao parapeito da janela chegava. Tudo isto e muito mais lembro ao olhar os cabelos dourados e brancos que tenho. Meu Deus! Como ainda me posso lembrar de andar ao colo da ama? Quem sou? E por isso quero chorar. Vivo na criança que fui e na idosa que sou. Mistura selvagem na incerteza de saber quantos amanhãs vou ter. Desabafo incontido nesta solidão de viver sem querer que me oiçam e sintam que nos iremos separar e nunca mais darmos gargalhadas, de mão dada passearmos e nunca voltarmos a abraçar-nos. Pode ser que ainda viva mais tempo para recompensar tantos momentos tristes que vivi. Porto,20 de abril de 2021 Carminha nieves
Nada deve ser dito. O mistério deve permanecer. Figura misteriosa e distante. Estatura elevada. Àquele que não deseja compartilhar o que sabe. Envolto em uma névoa de mistérios. A figura que ninguém duvida saber de algo. O silêncio é a minha garantia. A cor da roupa do rapaz lembra a de um médico. Àquele que irá contar apenas o necessário. Profundos olhos azuis. Profundo sentido de respeito ao segredo. Luvas perfeitamente colocadas na mão. Textura clara, fina e bela da roupa. Levando o segredo de forma sutil. Fique em silêncio, apenas. Olhar distante, mas não perdido. Áquele que sabe focar no mundo não-verbal. Àquele que consegue viver sem algumas palavras no ar. Apenas visualize, não verbalize. De todas as palavras, a melhor é nenhuma. Cores claras e suaves, e olhar angelical e sério.
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