Faz oito anos que sem contar, partiste. Pronta para ir junto a ti, recebi o pior telefonema que podia ter. Tinhas morrido. Muita coisa, imensa ficou por dizer, muitos gestos de ternura, muitas palavras. Hoje a saudade, filme a preto e branco passam no pensamento. Se ainda cá estivesses, não estaria nesta angustia, sempre me defendeste, mas estou só e quem me ampara não o pode fazer. Batalha imensa, mágoa que aperta o coração. Sabes!? O que dói é o desprezo em que o ser que geramos nos repudie, sem dó nem piedade. Também está doente, no desconhecimento do que tem, onde está, por terceiros vou sabendo. Mas sem ter certezas. Esta incerteza magoa como lança no coração. Talvez num hospital qualquer, esteja a sofrer, com medos e lagrimas. Pudera eu estar junto e acarinha-la. Mas não me querem, sou lixo, estorvo, é muito triste. Ó Rui, não conseguimos ser felizes, não soubemos, já te pedi perdão publicamente, tu sabes. Mas também o que fiz por todos o quanto dei, o que sofri. Por isso sinto a tua falta, se cá estivesses de certeza que nada do que me fazem seria possível. Sofro tanto que nem consigo chorar, nunca pensei que quem foi aceite na família e tratado como filho conseguisse afastar de maneira tão cruel a filha de quem lhe deu o ser. Em pensamento tento afagar a quem tanto quero. Mas é um vazio tão grande! O meu Amigo foi ao cemitério levar um ramo de belíssimas rosas para ti. Eu não quero olhar a laje fria que e talvez pouco limpa, que cobre o que de ti resta. Mas para mim, ainda cá estas, converso contigo e peço que me ajudes. Aberta ao mal dizer de todos, impropérios ofensas, seguirei na verdade limpa da razão. Sei que estás junto a Deus pois fostes do mais honesto, reto e consciencioso. Não soubeste demonstrar sentimentos, mas sentias, amavas à tua maneira, sei que sim e quero acreditar. Foram 49 anos da nossa vida junta. Por algo foi. Por ti sei que ficavas feliz por ter um companheiro, que me respeita, que me abraça e que em silêncio sofre por me ver sofrer. Peço-te olha pela nossa filha, não a desampares, mesmo ausente ajuda-a. Eu não posso. Mesmo querendo com toda a alma não me deixam. Descansa em paz eu neste mundo vou sofrendo aguentado a maldade, a injuria, mentira e desprezo, talvez um dia tenha a recompensa, o que sofro ninguém mo tira, mas um dia feliz para mim é uma vida. Desejo que saibas como vivo e que me possas julgar. É o único que quero. E também que Deus ilumine as mentes doentias que tanto mal fazem a mim e aos meus entes queridos, que sofrem sem eu poder ajudar. De mão dado com o meu companheiro, sigo e tu podes estar junto a nós no meu pensamento. A doçura de sentir ternura nos seus olhos é o único que resta da minha longa caminhada. Para sempre, para o nunca mais, de conversarmos, eu amei-te na inocência da minha juventude. Mas foi muito pouco. Mesmo assim, respeitei-te sempre e com todas as forças fiz tudo quanto pude para amenizar o teu sofrimento na doença e desejei ser Deus para curar-te. Até sempre na eternidade, na vida que ainda tenho.
Porto 5 de Novembro de 2016 Carminho.
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Poeta
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