Crónicas :  Escrever e coçar...
Escrever e coçar...
Tem uma peça de teatro cujo nome é: Trair e coçar é só começar. Bem que eu gostaria que isso acontecesse com a escrita. Assim ó: Escrever e coçar, é só começar. Se bem que tem pessoas que a “coisa” acontece assim mesmo: começam a escrever, terminam. Comigo não... Eu sofro influências de várias maneiras. Se alguma coisa, ou alguém, interromper meu raciocínio, eu tenho que largar a escrita. E, às vezes, não adianta tentar recomeçar depois. Se eu tiver escrevendo alguma coisa com o rádio ligado, e tocar alguma música que eu gosto, quase sempre entra alguma coisa da música no texto. Eu preciso chegar com o texto praticamente pronto (na cabeça) para sentar e digitar. Caso contrário, ficar esperando que as palavras cheguem ou que o vento me sopre alguma coisa, a influência "cai matando".

Este texto mesmo, já estava todo engatilhado para ser escrito... Mal eu me sentei para digitá-lo, meu filho entra no quarto me pedindo dinheiro. Pedir dinheiro a quem está duro, é dureza. E quando você diz que não tem, e a pessoa fica insistindo, é pior ainda. Como é que eu posso ter estrutura para escrever alguma coisa que preste? Ainda bem que eu não escrevo por obrigação, como os cronistas dos jornais. Já li vários deles colocando esta situação nas crônicas: a de ter que improvisar. Isso é bom porque se transforma em um exercício. Mas não é a mesma coisa que “largar a alma” na escrita.

Mario de Andrade dizia que a crônica para ele era uma válvula de escape. Era quando ele se distraia com a escrita, porque não tinha tantas preocupações com as normas, como nos outros tipos de textos.
É justamente por esta “liberdade” que eu gosto da crônica. Ela não nos cobra nada a não ser soltar a imaginação e escrever. Apesar das interrupções (não foi uma só), dos olhares vagos no tempo, das buscas à ideia principal, eu consegui escrever alguma coisa. Talvez até eu possa dizer agora que: "Escrever e coçar, é só começar".

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

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