Textos : Balé com o Inimigo(Sketch VII) |
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Balé com o inimigo A cena se passa em Leningrado, 1943. Cena única Uma sala com duas poltronas, uma janela com uma cortina rosa, uma estante, duas mesinhas com vasos de flores, quadros na parede, uma mesinha de centro com dois livros, e perto da janela um banco alto com um gramofone tocando um balé chamado O Pássaro de Fogo, de Stravinsky. Uma mulher loira, magra e alta, dança. Ela é uma bailarina e se chama Petrouchka. Ouvimos lá fora barulhos de bombas, tiros e canhões, mas ela continua dançando sem se importar com a guerra. Petrouchka- Nem essa maldita guerra pode realmente me fazer parar de dançar( Dançando por toda a sala)- Essa maldita guerra só pode atingir pessoas estúídas e que não querem crescer como pessoas. Sua dança se torna uma mistura de balé classico com contemporâneo. Mais barulhos de tiros. Voz de soldado( off)- Precisamos defender essa casa! Mas há mais de trinta alemães e somos apenas cinco! É impossível! Eles realmente vão invadir esse prédio! Petrouchka nada ouve e continua dançando. Ela consegue se desligar de toda a guerra, ela para um pouco de dançar, e senta-se numa poltrona e fecha os olhos. Petrouchka- Essa poltrona me traz recordações incríveis. De minha avó, de meu pai a ler o jornal, de minha mãe a fazer tricô. Ah, como eu sinto falta deles. Desde que comecei a viajar com a companhia, eu quase nunca mais pude vê-los. E agora... Eles estão mortos.( Abre os olhos, levanta-se)- Vou voltar a dançar. Meus passos tem estado horríveis. Volta a fazer passos de balé. Nesse momento a porta se abre com estrondo e vemos um soldado alemão entrar com tudo. Petrouchka para de dançar, se assusta, mas corre para uma mesinha com gaveta e abre. Ela pega uma arma, engatilha e aponta para o soldado que está se recompondo pois quase caiu entrando com tudo na casa. Petrouchka- Quero que saia agora da minha casa, seu porco fascista! Eu não tenho medo de atirar! Saia daqui, seu besstydnyy! O soldado olha para ela com fúria e puxa do coldre uma Luger e aponta para ela. Eles ficam com as armas apontadas um para o outro sem dizer nada. Petrouchka- E então, seu maldito, quem realmente vai atirar primeiro? Acha que você com esse teu uniforme da SS e essa maldita cruz de Ferro criada pelo maldito imperador Frederico realmente vai atirar? Você estava fugindo da batalha, seu assassino covarde! O soldado que se chama Wolf responde: Wolf- Se continuar me xingando, vou te mostrar o que posso realmente fazer contigo. Abaixe a maldita arma!( Aponta para o coração dela). Petrouchka ainda não obedece. Petrouchka- Eu vou adorar matar um soldado que provavelmente matou minha família toda no ano passado! Wolf- Nessa maldita guerra a gente mata ou morre! Você, abaize essa arma agora. Eu só quero ficar escondido enquanto esses malditos russos não me pegam e me fuzilam! Petrouchka( começa a abaixar a arma, ainda com suspeita e raiva)- Seu idiota, havia ainda uns oito apartamentos e tinha que invadir o meu? Wolf- Não irei responder essa pergunta tola.( Guarda a Luger). Que música é essa que estou ouvindo? Petrouchska- O pássaro de fogo, de Stravinsky. Não é Wagner, nem Beethoven. Wolf( torce o nariz)- É muito moderno para meu gosto. Petrouchka- Claro, fascistas como você gostam apenas de obras que vocês consideram puras! Wolf- E essa música é o que? Uma sinfonia? Petrouchka- Um balé. Eu sou bailarina. Wolf( surpreso)- Nossa, uma bailarina. Eu jamais iria me perdoar se matasse uma artista. Petrouchka- Você já deve ter matado até santas ou velhas indefesas. Wolf fica em silêncio aou vir isso. Fica constrangido com a resposta. Petrouchka- Sabe, eu tenho estado entediada de ficar aqui, e claro, é perigoso, essa guerra toda. Vamos fazer um acordo, você parece ser um rapaz que tem um jeito para dançar. Nós dançamos um pouco, e você me tira daqui viva e me coloca em um lugar seguro. O que acha? Wolf fica pensativo. Ele não acredita muito na promessa, mas de fato a mulher acertou ao dizer que ele gostava de dançar. Wolf- Aceito, e tenho esse lugar e ninguém vai te incomodar. Petrouchka- Aproxime-se então de mim. Wolf vai até ela. Ela sorri discretamente para ele. Ela começa a a ensinar passos básicos que todos já viram para Wolf. Wolf no começo erra bastante. Petrouchka( irritada)- Zadnitsa! É para a esquerda e não para a direita! Wolf- Estou nervoso, e são muitos passos para decorar. Eles continuam fazendo passos básicos de ballet e Wolf começa a acertar mais. Petrouchka( não querendo demonstrar que está alegre pelo progresso dele)- Você realmente aprendeu. Ouve-se mais e mais barulhos de tiros de metralhadora, de bombas e tanques começam a se aproximar. Petrouchka- Bom, já fiz minha parte no acordo. A situação está começando a ficar ruim. Por favor, me tire daqui. Wolf- Olhe, eu irei ajudá-la, mas ninguém pode saber disso. Você precisa ficar quieta, é minha vida que está em risco. Petrouchka( revira os olhos incomodada)- Claro que não falarei. Eu vou te esquecer em menos de dois dias. Vamos logo, me tire daqui. Petrouchka vai até a mesinha com o gramofone, desliga-o e vai para junto dele. Wolf- Vamos! Eu tenho um esconderijo há seis quarteirões daqui. Lá não há batalha. Wolf e Petrouchka saem apressados. Wolf( voz off)- Entre no carro no banco de trás, e fique abaixada. Só levanta quando chegarmos. Petrouchka( voz off)- Oh, eu poderia me passar por sua amiga, mas tudo bem, farei isso. Um barulho de carro é ouvido partindo. No palco tudo fica escuro. Mais barulhos de tiros. O pano desce. FIM |
Poeta
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