Crónicas : o poeta e a puta |
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Aí eu a encontrei às 3h da manhã, no bar. Já estava em flutuante pensar. Passei direto, pedi uma cachaça. Desceu gritando. Olhei para o lado e ela me disse:
- Não gosto de poetas. Respondi que eu não gosto de putas! Fechou a cara e indagou: - Quem disse que sou puta? Franzi a testa e respondi: - Quem disse que sou poeta? - Mas é o que todos aqui dizem de você. - Já eu nunca ouvi falar nada sobre você. - Então como sabes que sou puta? - Justamente por nunca ter ouvido falar nada sobre você. Puta da vida, ela grita: "VOCÊS, POETAS, SÃO LOUCOS". Puto da vida, murmuro: "E você só não é mais puta, pois não cobra. - Se puta sou, Deus é meu cafetão! - Se poeta sou, Deus é meu porta-voz! E com minhas putas palavras, gozo nas línguas portuguesas, dou cambalhotas em fins de tarde, faço orgias com versos e sílabas, alço a bandeira que bem entender e me calo. E tu, puta, o que fazes? - Faço orgias com portugueses, gozo em línguas ásperas e dou cambalhotas nas madrugadas, parte de mim fica em cada quarto, alço a bandeira vermelha e me calo. |
Poeta
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