Poemas surrealistas : Cerração IV - Um poema besteirol |
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Parei, dei um estágio e descobri
que quero é rimar, gritar, bailar, desarvorar... E depois, todo mundo grita e me bate, e bate palmas, traz pra frente, serelepe, pancadas e tchibum! Mergulho d'uma pedra n’água ou barrigada de quem não sabe dar caída. Caiu na avenida minha vida, meu passado emocionado, iluminado, falsificado como notas de “barão”, de “castelão”, de Sansão de tudo que termina em “ão” e que me abomina, que me ilumina. Os olhos dessa menina são que nem formigas no canteiro. Mas, que cheiro... Que deliciosa malícia... Até os peixes põem os olhos fora d’água. Enquanto espero essa avestruz, tento fazer algo produtivo. Quero ser ativo, embromador, enrolador de pseudos crânios. Quero “cranificar” as coisas com meus álibis, com meus astrais, com meus duendes que não me vendem, nem se vendem. Brigam e defendem a ecologia. Mas que mania de querer destruir tudo que é belo e elevar o mundo à zero! Zero é nada, pois não nada, nem sabe nadar... O cão é fiel ao dono porque é a sua imagem. Agora, imaginem quem é mais inteligente, minha gente: O dente ou a raiz? Que giz? Pra quê giz? Pra sujar o quadro ou minhas mãos? Tenho alergia, não sabia? Por isso não fui ser professor. Que dor, que demência. Perdi minha paciência e no fundo, não sou nada. Só um observador deste mundo em verso. Ou melhor: Deste universo, que não une nada nem se preocupa com o verso. E se converso, tem gente me espionando por trás do espelho... Me olhando com olhar de maluco, põe o dedo no meu nariz e diz: O que é que está olhando? Nunca me viu? Vai olhar a PQP (ato bonito, frase feia) que foi quem te pariu! Então eu vou e olho mesmo. Aí vejo uma rosa vermelha... Que asneira! Onde eu estava com o olho, que pisei na merda? Que merda! Não, não é merda, é bosta. Que bosta! Vou parar com este assunto que já está me dando nojo e parece-me que vai chover. Peguei em baixo... Fui sair sem escutar a meteorologia. E agora, minha tia? Vai cair meteoros sobre minha cabeça e eu tenho alergia... O meu maior vexame é que saí com sapatos para dia de sol. Eles têm furos nos solados, e os pobres dos meus pés vão morrer afogados, coitados. O que é que eu faço agora? Vou-me embora, ou espero a morte chegar? Ah, eu quero é amar... Amor, inoportuna fortuna que me desaba o peito. Touro feroz atacando o meu vermelho pano. Plano em debandada, desabalada. Desalento do meu canto. Não consigo ser eu depois de tantos “quais”, depois de tantos ‘quês” e “por quês”. Com ou sem til, o meu pavio é de grafite e não emite nenhum cheque sem fundo, pois o meu mundo é que nem eu: Pequeno demais para tanta pessoa e não é à toa que me isolo, me enamoro e viro um verdadeiro narcisista. Não é a vista, é à vista, de olhar as prestações do ano: primavera, verão, outono... Todo mês se paga uma quantia, mas nunca alivia a tensão... E atenção para este produto, porque ele foi proibido pelos próprios fabricantes. Não sem antes dar uma dose ao pobre do rato. Coitado do cobaia... Estava de tocaia, dando um “I Love you” num queijo, mas recebeu foi um beijo de um cientista louco que, por pouco, não acabou comigo. E depois de tanta invenção, eu quero mais é voar no horizonte, quero me sentir menino, quero viver passarinho que de anos, não agüento mais. Os erros se foram, passaram. As horas passaram, se foram. O tempo brinca comigo e arrelia-me envelhecendo-me... O sonho é um pesadelo, a nuvem é uma fumaça, o riso é um disfarce. Um século, custam dez dias e os dias são minhas agonias. Amor, distração, refeição alma, calma, solução... Não, não, não... Enlouquecer? Salvação? Praia, mar, onda verde... Ver-te, rever-te, reveste este, oeste, meu pensamento, horizonte aberto, amplo templo longo e espesso. Mas ninguém me vê ou me entende. Estão com preguiça de lutar... Vocês têm mais é que pensar, porque eu sou um verdadeiro fato. Tai o meu retrato: Um inhame debaixo do braço, um siri à tiracolo... Penso muito, por isso me enrolo. Sou uma verdadeira muqueca. Muqueca? Mudei de beca e tirei meu cavalo da chuva, pois não gosto de judiar do bichinho; Botei uma cobertura num ninho, abri uma gaiola para salvar um passarinho e tive que ser salvo pelos vizinhos, porque o dono era um bruta monstro e queria me matar. Veja se dá... Sai dessa, sô! Faço que vou, não vou... Ficar em duvida é igual a amar: A gente nunca sabe se conhece este maldito prazer. E prazer para mim é amar uma coisa chamada Natureza, você veja... A gente fica assim... bem de mansinho, molhado pelo sereno que cai devagarzinho, namorando uma musa chamada lua e a vida continua... Porém, quem não vai continuar mais sou eu com esta CERRAÇÃO ou no meio desta cerração porque o que eu queria, já consegui: Chamar a atenção. E atenção para o toque de oito segundos para descortinar esta neblina: 8-7-6-5-4-3-2-1-0... Fogo! Fogo? Fogo onde? Ah, desculpem. Isto são os resquícios da guerra. Mas é assim mesmo que CERRAÇÃO encerra. E ponto final. AJ Cardiais 15.09.1982 imagem: google |
Poeta
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